Policromia - Três grandes técnicas
A paciência das etapas
O trabalho de policromia de uma escultura sacra é tradicionalmente realizado por duas pessoas: o escultor habilidoso que transforma um simples pedaço de madeira ou barro em obra de arte e, em seguida, o entrega ao pintor de confiança. Ao contrário de uma tela em branco, a pintura de uma escultura não é livre; ela revela o que já existe ali, podendo suprimi-lo ou ressaltá-lo.
A policromia se difere da pintura simples pelo fato de ser executada em dezenas de camadas bem definidas: a selagem dos poros, o nivelamento com gessos, os fundos de cor, os altos ou baixos relevos, os diversos estratos de materiais envolvidos no douramento, a tinta preparada artesanalmente e, por fim, a pintura da pele realizada em delicadas camadas transparentes sobrepostas… São algumas de uma série de preparações complexas que são fruto da combinação de três grandes técnicas descritas abaixo.
1.
Douramento
2.
Esgrafitos
Uma característica surpreendente da policromia é que a pintura é aplicada sobre o douramento, o que pode surpreender quem não está familiarizado com o processo. Todo o ouro é revestido com uma tinta especial, feita artesanalmente – a tempera a ovo – que consiste em uma mistura de pigmentos, gema de ovo e aditivos, resultando em uma tinta extremamente macia. Essa tinta é aplicada inteiramente cobrindo o ouro por completo.
Com uma ponta fina, a tinta é então riscada, utilizando a técnica italiana do século XII chamada esgrafitos. Esses riscos criam diversas decorações de forma livre, revelando o ouro subjacente. Todo o processo é elaborado de modo a criar uma estamparia única, que reflete a própria luz da divindade.
Além disso, outros tipos de decorações são realizados nesse processo, como os alto-relevos (pastiglio) e os baixo-relevos (punzonatura).
3.
Carnação
Na técnica de pintura policromia de arte sacra a carnação se refere à representação da pele humana, especialmente o rosto e as mãos das figuras sagradas retratadas nas esculturas. A palavra “carnação” vem do “carne” e se relaciona diretamente com a cor da pele.
Na arte sacra tradicional a carnação é elaborada com grande detalhe e realismo, utilizando uma combinação de tons de tinta a óleo para criar uma representação vívida da pele, com sombras, luzes e texturas que buscam transmitir uma sensação de vida e expressão às figuras religiosas. Este aspecto é fundamental para transmitir a emoção e a espiritualidade nas obras de arte sacra tradicionais.